terça-feira, 14 de abril de 2009

All the lonely people...

(Post dedicado à minha mãe, que divide comigo tantas coisas preciosas, à minha amiga aniversariante Fátima Wolf e a todos aqueles que ainda têm a capacidade de se emocionar com belas canções)


Sempre cultivei uma profunda admiração por Eleanor Rigby, apresentada a mim por minha mãe, ainda na infância. Pra quem não conhece, é a personagem de uma das mais belas canções dos Beatles. Uma misteriosa e solitária mulher, que guarda sonhos em um jarro e acompanha todos os casamentos de sua cidade, jogando arroz e desejando felicidade aos noivos, sem ao menos conhecê-los. Quando morre, ninguém comparece ao seu enterro.
Lennon e Mc Cartney souberam, como ninguém, falar do vazio existencial, da Eleanor Rigby que guardamos dentro de nós, mesmo quando estamos em família, no meio de um show ou balada ou, ainda, na praia, num domingo qualquer de sol.
O trecho mais tocante da música é, na verdade, um questionamento: “All the lonely people, where do they all come from? All the lonely people, where do they all belong?” (Todas as pessoas solitárias, de onde todas elas vêm? Todas as pessoas solitárias, de onde todas elas são?).
Pois Eleanor ressurgiu-me com toda a força, hoje, pela manhã, em frente ao pc, na imagem e na voz de Susan Boyles, candidata do Britain's Got Talent (um misto de Show de Calouros com American Idol). Uma senhorinha britânica, de 47 anos, que subiu ao palco para cantar "I Dreamed a Dream", do musical Os Miseráveis. (Veja o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=RxPZh4AnWyk)
Uma mulher que tem como única companhia Pebbles, seu gato. Que nunca se casou, nunca foi beijada. A caçula de nove irmãos, que nasceu de um parto complicado, que lhe deixou como sequela a dificuldade de aprendizado e um jeitinho desajeitado, que somados à aparência, foram motivos de chacota durante toda uma vida, até o dia de sua aparição na TV.
Desacreditada pelos jurados, que antecipavam um momento de vergonha alheia, Susan colocou ali, no palco, mais do que sua voz para fora: colocou seu coração, toda a beleza que o mundo jamais poderia ver de outra maneira.
E emocionou pessoas ao redor do mundo. Seu vídeo no You Tube já ultrapassou os 3 milhões de visualizações. Susan agora é uma celebridade. E tudo o que desejava não era o prêmio de um milhão dado ao vencedor do programa, mas sim que sua mãe, falecida em 2007, tivesse um único motivo para orgulhar-se dela.
Terá Susan o mesmo destino solitário de Eleanor? Não imagino quantos serão seus minutos de fama, espero que este episódio tenha mudado para melhor seu destino. Sinto que, de alguma forma, ela respondeu à pergunta de Lennon e Mc Cartney: não sabemos de onde vêm, nem para onde vão essas pessoas solitárias. O que realmente importa é o que elas deixam ao mundo, o que não se oferece aos olhos, mas ao coração.